Como cauterizar uma ferida (com imagens)

A  “FERIDINHA”  E  A  CAUTERIZAÇÃO

       O vocabulário médico-científico, em muitas ocasiões, ergue uma barreira na comunicação entre o ginecologista e a paciente.

Palavras como hipomenorréia e dispareunia – que fazem parte do jargão médico cotidiano – precisam ser traduzidas para a linguagem leiga para que a mulher entenda que estamos nos referindo, respectivamente, a um fluxo menstrual de pequeno volume e à dor durante as relações sexuais.

Por vezes, em benefício dessa comunicação, até abrimos mão da exatidão científica. É o caso da expressão “feridinha no colo do útero”, diagnóstico que transmitido à paciente peca pela extrema simplicidade, suscitando mais dúvidas do que a tranqüilidade almejada.

Quando, então, dizemos que a tal “feridinha” pode ser tratada por meio de uma cauterização, o medo do desconhecido soma-se às dúvidas anteriores, obrigando-nos a dar uma explicação mais detalhada sobre o diagnóstico e o procedimento terapêutico proposto.

       As três perguntas mais ouvidas pelos ginecologistas, nessas circunstâncias, são: “Como foi que eu peguei essa ferida?”; “Por que tenho que fazer uma cauterização?” e “Isso dói?”

       A expressão “feridinha no colo do útero” é uma tradução grosseira de uma entidade clínica conhecida como ectopia cervical, ou ectrópio, resultante da eversão do epitélio endocervical. Trocando em miúdos…

       O colo do útero é, basicamente, um canal situado no fundo da vagina.

A parte externa do colo, que fica em contato com o ambiente vaginal, chamada ectocérvice, é coberta por um epitélio espesso que tem várias camadas de células; sendo portanto, mais resistente às eventuais agressões próprias do local, como acidez, agentes infecciosos (vírus e bactérias) e traumas mecânicos causados pelo coito.

A parte interna desse canal, que se prolonga até a cavidade uterina, é muito mais delicada, sendo revestida por um epitélio fino e delicado que possui uma única camada de células.

Por mecanismos hormonais (estrogênios), inerentes ao organismo feminino, o revestimento interno do canal – sensível e frágil – passa a se localizar na porção externa do colo (eversão), o que o torna mais suscetível a sangramentos durante as relações sexuais, a infecções de diversas etiologias (clamídia, HPV), além de, uma vez inflamado, produzir uma quantidade excessiva de muco, que se exterioriza sob a forma de um corrimento espesso, pegajoso e amarelado (cervicite).

Como Cauterizar uma Ferida (com Imagens)

A figura ilustra a influência hormonal na gênese da ectopia cervical.

       Em outras palavras, a mulher não “pega a ferida”. Esta é uma conseqüência da influência hormonal durante a idade fértil. Essa influência dos estrogênios sobre o colo uterino é observada, inclusive, em meninas recém-nascidas, que podem apresentar ectopia, temporariamente, por causa dos hormônios placentários.

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       Por que a cauterização é usada como tratamento para a eversão do epitélio endocervical?

       A Natureza reconhece que o ambiente vaginal não é o mais adequado para aquele epitélio que saiu do canal cervical e ficou exposto aos agentes agressores.

Diante disso, ela sabiamente promove a substituição daquele epitélio mais frágil por outro mais resistente, por meio de um processo que, entre os médicos, é conhecido pelo nome de metapasia.

Em outras palavras, se não fizermos nada, a Natureza se encarregará de “tratar” a ectopia. O processo, porém, é muito lento e irregular, podendo levar anos para se completar.

      Entre as razões pelas quais se cauteriza a ectopia, estão os desagradáveis sintomas por ela provocados (sangramentos de contato, corrimento), a maior resistência do novo epitélio em relação às infecções (DSTs) e uma menor vulnerabilidade – isso é discutível – em relação ao câncer do colo.

       A cauterização, como o nome indica, é uma queimadura, de intensidade e profundidade controladas, que tem por objetivo destruir – completamente, e em questão de segundos – o epitélio evertido, aproveitando a capacidade regeneradora da Natureza. Durante o processo de cicatrização, que dura de quatro a seis semanas, há uma completa substituição daquele tecido frágil por outro mais resistente.

       A cauterização do colo é realizada no consultório – preferencialmente, nos primeiros dias que se seguem ao término da menstruação – e não requer qualquer tipo de anestesia, pois é  praticamente indolor, apesar de algumas pacientes queixarem-se de uma cólica leve durante o procedimento. Agentes químicos ou físicos podem ser utilizados para cauterizar. Entre estes, podemos citar: as substâncias cáusticas (ácidos), o frio extremo (- 60ºC = criocauteri- zação), o calor, a corrente elétrica, o ultra-som e os raios laser.

       Durante o período de cicatrização, por motivos óbvios, a abstinência sexual deve ser total. Nesse intervalo, recomenda-se a aplicação de cremes vaginais para acelerar o processo de regeneração. Entre o sétimo e o décimo dia após o procedimento pode ocorrer (não obrigatoriamente) um pequeno sangramento que, se se intensificar merecerá uma inspeção por parte do médico assistente.

       Como a influência hormonal sobre o colo é constante durante a idade fértil da mulher (inclusive durante a gravidez), uma nova porção do canal pode se exteriorizar, decorridos alguns anos da primeira cauterização. Nesse caso, uma segunda cauterização será necessária.

       A comunicação é o principal instrumento da relação entre o ginecologista e sua paciente. Todo ato médico – desde a simples prescrição de um medicamento até a indicação de uma cirurgia complexa – deve ser acompanhado das respectivas explicações. Mais do que um direito da paciente, trata-se de um dever profissional.

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Para saber mais sobre este assunto:

   Evidências de benefícios no tratamento de ectopia do colo do útero: revisão de literatura – MACHADO JUNIOR, Luís Carlos; DALMASO, Ana Sílvia WhitakerCARVALHO, Heráclito Barbosa de. Sao Paulo Med. J. 2008, vol. 126, no. 22008-10-29], pp. 132-139.

   Histologic Development of Cervical Ectopy: Relationship to Reproductive Hormones – JACOBSON, DENISE L. PhD, MPH*; PERALTA, LIGIA MD; GRAHAM, NEIL M. H. MD, MPH*; ZENILMAN, JONATHAN MD – Sexually Transmitted Diseases:Volume 27(5)May 2000pp 252-258.

   Autocuidado para a cicatrização da ferida de colo de útero – Antonia F. de Menezes; Maria E. de Castro; Maria Albertina Rocha Diógenes – Rev. enferm. UERJ vol.14 no.2 Rio de Janeiro June 2006.

  • —————————————————————————————— Lembramos que os textos da série “A Saúde da Mulher” têm caráter estritamente informativo e de apoio,
  • não substituindo – em hipótese alguma – as relações de confiança entre médicos e pacientes. (CAC)

Ferida no útero: principais causas, sintomas e dúvidas comuns

A ferida no colo do útero, cientificamente chamada de ectopia cervical ou papilar, é causada por uma inflamação da região do colo do útero.

Por isso, ela tem diversas causas, como alergias, irritações a produtos, infecções, e pode até ser causa da ação da mudança de hormônios ao longo da vida da mulher, inclusive na infância e na gravidez, podendo acontecer em mulheres de todas as idades. 

Ela nem sempre provoca sintomas, mas os mais comuns são corrimento, cólica e sangramento, e o tratamento pode ser feito com cauterização ou com uso de remédios ou pomadas que ajudam a cicatrizar e combater infecções. A ferida no útero tem cura, mas se não for tratada pode aumentar, e até, virar câncer.

Como Cauterizar uma Ferida (com Imagens)

Principais sintomas

Os sintomas de ferida no útero nem sempre estão presentes, mas podem ser:

  • Resíduos na calcinha;
  • Corrimento vaginal de cor amarelada, branco ou esverdeado;
  • Cólica ou desconforto na região pélvica;
  • Coceira ou ardência ao urinar.
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Além disso, dependendo da causa e do tipo de ferida, a mulher pode ainda apresentar sangramento vaginal após a relação.

Como confirmar o diagnóstico

O diagnóstico da ferida no colo do útero pode ser feito através do exame papanicolau ou colposcopia, que é o exame no qual o médico ginecologista consegue ver o útero e avaliar o tamanho da ferida. Na mulher virgem, o médico poderá observar o corrimento ao analisar a calcinha e através do uso de um cotonete na região da vulva, que não deve romper o hímen.

Possíveis causas

As causas da ferida no colo do útero não são totalmente conhecidas, mas podem estar ligadas a inflamações e infecções não tratadas, tais como:

  • Alterações de hormônios na infância, adolescência ou menopausa;
  • Alterações do útero na gravidez;
  • Ferimento após o parto;
  • Alergia a produtos da camisinha ou absorventes internos;
  • Infecções, como HPV, Clamídia, Candidíase, Sífilis, Gonorreia, Herpes.

A principal forma de contrair uma infecção desta região é através do contato íntimo com um indivíduo contaminado, principalmente quando não se usa o preservativo. Ter muitos parceiros íntimos e não ter higiene íntima adequada, também facilitam o desenvolvimento de uma ferida. 

Como tratar

O tratamento para ferida no útero pode ser feito com o uso de cremes ginecológicos, que são cicatrizantes ou à base de hormônios, para facilitar a cicatrização da lesão, que devem ser aplicados diariamente, pelo tempo determinado pelo médico. Outra opção é a realização da cauterização da ferida, que pode ser à laser ou com uso de produtos químicos. Leia mais em: Como tratar a ferida no útero. 

  • Se for causada por uma infecção, como candidíase, clamídia ou herpes, por exemplo, devem ser usados medicamentos específicos para combater o micro-organismo, como antifúngicos, antibióticos e anti-virais, prescritos pelo ginecologista. 
  • Além disto, a mulher que tem uma ferida no útero tem maior risco de se contaminar com doenças, por isto deve tomar maiores cuidados, como uso de preservativo e vacinação para o HPV.
  • Para identificar uma lesão o mais precoce possível, e diminuir os riscos à saúde, é importante que todas as mulheres façam uma consulta com um ginecologista pelo menos 1 vez ao ano, e sempre que houver sintomas como corrimento, procurar imediatamente ajuda médica. 

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Ferida no útero atrapalha engravidar?

A ferida no colo do útero pode atrapalhar a mulher que deseja engravidar, porque elas alteram o pH da vagina e os espermatozoides não conseguem chegar ao útero, ou porque as bactérias podem chegar às trompas e causar doença inflamatória pélvica. No entanto, as lesões leves geralmente não atrapalham a gravidez.

Esta doença também pode acontecer durante a gravidez, o que é comum devido às alterações de hormônios neste período e deve ser tratada o mais rápido possível, pois a inflamação e infecção podem atingir o interior do útero, o líquido amniótico e o bebê, causando risco de aborto, parto prematuro, e, até, infecção do bebê, que pode ter complicações como atraso do crescimento, dificuldade respiratória, alterações nos olhos e ouvidos.  

Ferida no útero pode causar câncer?

A ferida no útero geralmente geralmente não causa câncer, e geralmente é resolvida com o tratamento. Entretanto, em casos de feridas que têm um crescimento rápido, e quando o tratamento não é realizado adequadamente, o risco de virar câncer é aumentado.

Além disto, a chance de uma ferida no útero virar câncer é maior quando ela é causada pelo vírus HPV. O câncer é confirmado através da biopsia realizada pelo ginecologista, e o tratamento deverá ser iniciado assim que se confirme o diagnóstico, com cirurgia e quimioterapia.

Como acelerar e favorecer o processo de cicatrização de feridas

Como acelerar e favorecer o processo de cicatrização de feridas

Na rotina veterinária, principalmente a campo, é comum a combinação de métodos e medicamentos no tratamento de feridas. Para tanto, é importante entender o mecanismo da cicatrização, e conhecer os produtos adequados para essa indicação.

Ferimentos e cicatrização

Os ferimentos abertos são aqueles em que ocorre um rompimento da integridade da pele, resultado de um trauma. Dentro desse conceito existe uma classificação quanto ao tipo de ferimento de acordo com o objeto causador do trauma (incisas ou cirúrgicas, contusas, laceradas, perfurantes).

O processo de cicatrização possui uma sequência de fases, onde ocorrem reações locais na estrutura da pele. São as fases:

  1. Inflamatória: se inicia logo após a lesão e dura cerca de 5 dias. Nessa fase ocorre a hemostasia (mecanismo de controle da perda sanguínea), com a ação de mediadores químicos para formação do tampão de fibrina, que irá estabilizar a ferida. Identificamos aqui os sinais clássicos de inflamação: calor, rubor, tumor e dor.
  2. Proliferativa: do 5º ao 20º dia após a lesão, essa fase é caracterizada pela formação do tecido de granulação, uma camada que irá preencher e proteger o ferimento de infecções. Aqui se inicia o processo de regeneração da epiderme.
  3. Reparadora: após 20 dias (e podendo durar cerca de 1 ano), o tecido de granulação é substituído pela cicatriz.

Alguns fatores influenciam no processo de cicatrização, como a presença de resíduos e sujeiras, doenças, e exposição a antissépticos e medicamentos que retardam a regeneração da pele. Por isso, é importante tratar adequadamente as feridas, evitando infecções oportunistas e reduzindo o tempo do tecido exposto.

Logo após a ferida ocorrer, é fundamental higienizar toda a área adequadamente, com higienizantes e antissépticos tópicos.

Depois da limpeza, deve-se proteger a área sem necessariamente fechar completamente a ferida.

Após esses dois passos iniciais, deve-se começar um tratamento tópico para ajudar a evitar infecções, acelerando o processo de reparação tecidual através do uso de produtos veterinários específicos para este fim.

Combine Ricinus e Cicatrizantol em seu tratamento e potencialize os resultados

A Vansil Saúde Animal possui dois produtos de grande valia no tratamento de feridas:

O Cicatrizantol possui em sua formulação antibiótico e antisséptico que auxiliam no tratamento de feridas e manutenção da cicatrização natural. É indicado na profilaxia e tratamento de infecções bacterianas superficiais em ferimentos, queimaduras, úlcera e eczemas, feridas de castração e descorna, umbigo de recém-nascidos e nos cortes dos tetos.

O Ricinus é um produto à base de óleo de rícino, um emoliente natural que penetra a pele e estimula a produção de colágeno e elastina, além de hidratar a pele. É indicado para hidratação da pele de bovinos, suínos e pequenos animais (inclusive cães e gatos).

Veja na imagem abaixo o processo de cicatrização em um equino, com o uso do produto:

A combinação de ambos os produtos fornece segurança na regeneração da pele, prevenindo infecções secundárias, e melhorando a estrutura da pele para que a cicatrização ocorra sem complicações.

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  • Como Cauterizar uma Ferida (com Imagens)
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Cauterização do útero: entenda quando o precedimento é indicado

Última modificação: 29 de novembro de 2017 às 12:03 por oRedacao.

A cauterização do útero é indicada quando há feridas no órgão feminino

Como Cauterizar uma Ferida (com Imagens)A cauterização do útero é importante para tratar certas doenças, como HPV. © iStockphoto.com/monkeybusinessimages

A mulher, ao longo de sua vida, pode desenvolver feridas no colo do útero, os chamados ectrópios. Esse processo inflamatório, normalmente, não possui sintomas, mas, em alguns casos podem apresentar sangramento durante o sexo, corrimento e dor no baixo ventre.

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E para acabar com essas feridas, é indicada a cauterização do útero. O procedimento, que pode ser feito de diversas maneiras – desde o uso de ácidos ao laser -, consiste em queimar os tecidos afetados.  

“Sempre tratamos a presença desse ectrópio com a cauterização do útero, pois o problema pode evoluir para uma ferida maior e causar incômodos constantes. E quando infectada pelo HPV, é preciso ainda mais atenção, pois as células podem virar câncer de colo uterino”, explica Élvio Floresti, ginecologista e obstetra, de São Paulo.

A ferida no colo do útero é uma condição fisiológica presente em muitas mulheres, principalmente nas adolescentes e adultas jovens, devido o uso de anticoncepcional, ou nas gestantes. Nos dois casos, a ferida surge devido ao aumento do nível de estrogênio no corpo das mulheres.   

Cuidados antes da cauterização do útero

Para realizar o procedimento não é necessária uma preparação por parte da paciente. Entretanto, a mulher não deve estar menstruada nem apresentar infecção vaginal ao realizar a cauterização.

“Se a mulher estiver com corrimentos pruriginosos, com odor fétido, ardência e irritabilidade vaginal, é preciso realizar uma avaliação médica. Isso se deve ao fato do procedimento agravar uma infecção vaginal já instalada”, alerta Sergio Podgaec, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Uma anestesia local é aplicada para que a paciente não sinta dor durante o procedimento. Após sua realização, deve-se evitar ter relação sexual, fazer duchas vaginais e utilizar absorventes íntimos.

A recuperação

Quando a cauterização do útero é apenas química, ou seja, realizada com ácido tricloroacético, a recuperação é bastante rápida. É aconselhado apenas evitar relação sexual por algumas horas.

“Já após o procedimento com aparelhos, com várias camadas são destruídas, há necessidade de ficar pelo menos 15 dias sem relação sexual. Mesmo fazendo uso de creme vaginal cicatrizante, existe uma maior probabilidade de infecção no colo uterino”, alerta Floresti.

Além disso, vale ressaltar que a paciente pode apresentar dor abdominal, normalmente de leve intensidade após a cauterização do útero e autolimitadas nas primeiras horas, porém eventualmente analgésicos como dipirona ou paracetamol podem ser necessários.

“Pequenos sangramentos vaginais podem ocorrer no decorrer dos próximos dias e é muito comum as pacientes observarem uma certa descamação. Isso é o tecido do colo do útero se regenerando após a lesão térmica causada pela cauterização”, aponta Podgaec.

O desconhecido poder cicatrizante do açúcar

Clara Wiggins BBC Future

Como Cauterizar uma Ferida (com Imagens) Direito de imagem Getty Images Image caption Pesquisadores acreditam que o açúcar pode beneficiar sua saúde de pelo menos uma maneira: ajudando a curar feridas

Durante a infância pobre, na zona rural do Zimbábue, Moses Murandu costumava passar sal nos machucados quando caía ou se cortava. Nos dias de sorte, porém, seu pai tinha dinheiro suficiente para comprar algo que ardia bem menos: açúcar.

Ele sempre reparou que o açúcar parecia cicatrizar os ferimentos mais rápido. E ficou surpreso quando, em 1997, foi contratado para trabalhar como enfermeiro do sistema público de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) e descobriu que a substância não era usada em nenhum procedimento oficial. Decidiu, então, tentar mudar isso.

Mais de 20 anos depois, a ideia de Murandu está finalmente sendo levada a sério. Professor sênior de enfermagem na Universidade de Wolverhampton, na Inglaterra, ele desenvolveu um estudo-piloto focado na aplicação do açúcar para a cicatrização de feridas, que rendeu a ele um prêmio do Journal of Wound Care, em março deste ano.

Em algumas partes do mundo, a adoção do procedimento pode ser crucial, já que parte da população não pode pagar por antibióticos. Mas o projeto é também de interesse do Reino Unido, uma vez que uma ferida infeccionada muitas vezes não responde à medicação.

Segundo Murandu, o tratamento se resume a botar açúcar no machucado e cobrir com um curativo. Os grãos absorvem toda a umidade que permitiria a proliferação de bactérias. E, sem bactérias, a ferida cicatriza mais rápido.

Direito de imagem Getty Images Image caption Resistência a antibióticos fez aumentar interesse em tratamentos alternativos, como o açúcar

Resultados

O pesquisador conseguiu demonstrar tudo isso em testes de laboratório. E diversos estudos de caso ao redor do mundo reforçaram sua descoberta, incluindo exemplos bem-sucedidos de tratamentos de feridas contaminadas por bactérias resistentes a antibióticos.

Mesmo assim, ele tem uma árdua batalha pela frente.

O financiamento para novas pesquisas pode ajudar Murandu a alcançar seu objetivo final: convencer o NHS a usar o açúcar como uma alternativa aos antibióticos.

Porém, grande parte dos estudos médicos é patrocinada pela indústria farmacêutica. E essas empresas, diz ele, têm pouco a ganhar custeando pesquisas sobre algo que não podem patentear.

O açúcar que ele utiliza é do tipo granulado, com o qual você poderia adoçar uma xícara de chá ou café.

Nos testes em laboratório, ele constatou que não há diferença em usar o açúcar proveniente da cana ou da beterraba. O demerara, no entanto, não é tão eficaz.

Sua pesquisa também mostrou que as cepas de bactérias crescem em baixas concentrações de açúcar, mas são completamente inibidas em níveis mais altos.

Além disso, Murandu começou a registrar estudos de caso no Zimbábue, Botswana e Lesoto (onde começou a estudar enfermagem). Entre eles, está a história de uma mulher que mora em Harare.

“O pé dela estava pronto para ser amputado, quando meu sobrinho me ligou”, relembra.

“Ela sofria havia cinco anos com um ferimento horrível, e o médico queria amputar. Eu disse a ela para lavar a ferida, botar açúcar, deixar agir e repetir (o procedimento).”

“A mulher ainda tem a perna.”

Segundo ele, esse caso mostra por que há tanto interesse em seu método, principalmente em partes do mundo onde as pessoas não podem arcar com o custo de um antibiótico.

Direito de imagem Getty Images Image caption Pesquisadores, como Murandu, pressionam para que o açúcar seja considerado um método oficial de tratamento em hospitais

Até agora, o pesquisador realizou estudos clínicos com 41 pacientes no Reino Unido. Ele ainda não publicou os resultados, mas tem apresentado suas descobertas em conferências nacionais e internacionais.

Uma pergunta que ele teve que responder durante a pesquisa foi se o açúcar poderia ser usado em pacientes diabéticos, que geralmente apresentam úlceras nas pernas e nos pés. Como quem tem diabetes precisa controlar o nível de glicose no sangue, este seria a princípio um tratamento improvável.

Murandu constatou, no entanto, que o método também é eficaz para os diabéticos – e não eleva as taxas de glicose no sangue.

“O açúcar é sacarose – você precisa da enzima sacarase para convertê-lo em glicose. Como a sacarase é encontrada dentro do corpo, somente quando o açúcar é absorvido que ele é convertido. Aplicá-lo no exterior da ferida não tem o mesmo efeito”, explica.

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Animais

Enquanto Murandu dá continuidade a sua pesquisa com pacientes humanos, a veterinária americana Maureen McMichael tem usado há anos esse tipo de tratamento com animais.

McMichael, que trabalha no Hospital Veterinário da Universidade de Illinois, começou a aplicar açúcar e mel em animais de estimação em 2002. Ela conta que foi atraída pela combinação da simplicidade e do baixo custo da medicação, especialmente no caso de donos que não podem pagar pelos tratamentos tradicionais.

A veterinária diz que sempre tem açúcar e mel em sua clínica. Ela administra com frequência em cães e gatos – e, de vez em quando, em animais de fazenda. O mel tem propriedades curativas semelhantes às do açúcar (um estudo revelou que é ainda mais eficaz na inibição do crescimento de bactérias), embora seja mais caro.

Direito de imagem Getty Images Image caption Tratamentos à base de açúcar podem ajudar não apenas seres humanos, mas também animais

“Tivemos grandes casos de sucesso”, afirma McMichael.

Ela dá o exemplo de uma vira-lata que foi usada como “isca de pitbull”, sendo atacada pelos cães durante um treinamento para brigar. A cadela chegou com cerca de 40 mordidas em cada membro – e ficou curada em oito semanas.

“Ela estava abandonada, então, não havia dinheiro para ela. Nós a tratamos com mel e açúcar, e ela respondeu fabulosamente”, relembra a veterinária.

“Agora, está curada.”

Além de ser mais barato, o açúcar tem outro lado positivo. À medida que os antibióticos são usados com mais frequência, estamos nos tornando resistentes a eles.

De volta ao Reino Unido, a especialista em engenharia de tecidos Sheila MacNeil, da Universidade de Sheffield, pesquisa como os açúcares naturais podem ser usados para estimular a retomada do crescimento de vasos sanguíneos.

O estudo foi resultado de seu trabalho sobre tumores, quando ela observou um pequeno açúcar em particular, derivado da quebra do DNA (2-desoxirribose), que continuava a crescer.

A equipe de MacNeil experimentou, então, aplicar esse açúcar na membrana que envolve os embriões de galinha, o que estimulou o crescimento em dobro do número de vasos sanguíneos que se desenvolveriam sem ele.

Rede global

Mas é claro que os açúcares naturais encontrados em nosso organismo são muito diferentes do tipo usado no dia a dia e por Murandu em seus experimentos.

A “combinação dos sonhos”, diz MacNeil, seria encontrar um açúcar que pudesse ser usado em ambos os casos. Ela acredita que esse deve ser o próximo passo das pesquisas científicas.

Enquanto isso, em Wolverhampton, o plano de Murandu é montar uma clínica particular para aplicar seu método. Ele espera que, um dia, o açúcar seja usado com frequência, não apenas pelo NHS, mas por hospitais públicos de outros países.

O professor conta que recebe regularmente pedidos de ajuda de diferentes partes do mundo – e orienta as pessoas remotamente por e-mail e mensagem de texto. Ao serem curados, os pacientes costumam enviar fotos do resultado do tratamento junto com sua gratidão.

O método é antigo e usado por pessoas pobres em países em desenvolvimento. Mas só quando chegou ao Reino Unido que Murandu percebeu que o açúcar poderia ser importante na medicina. Ele vê isso como uma combinação de seu conhecimento nativo com as avançadas técnicas de pesquisa britânicas.

“Como o açúcar, o conhecimento veio bruto do Zimbábue e foi refinado aqui. Agora, está voltando para ajudar as pessoas na África”, afirma.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

Cicatrização de feridas em pequenos animais: como conduzir o tratamento

Feridas em pequenos animais costumam ser causadas por traumas e muitas vezes não parecem graves aos olhos dos tutores. Nesse contexto, o mercado pet lança a cada dia dezenas de produtos para cicatrização de feridas. O problema é que uso frequente dessas substâncias pode comprometer o tratamento e colocar em risco a saúde do animal.

Quem garante é a médica veterinária Jussara Scheffer. Segundo ela, o manejo ideal acontece no atendimento clínico, que se vale das soluções mais adequadas. Com o conhecimento técnico do profissional de veterinária, a ferida é tratada durante as fases inflamatória, de granulação e de epitelização – o que vale para cães e gatos.

A fase inflamatória, que consiste na reação tecidual ao evento, provoca vasoconstrição e vasodilatação. Depois, o organismo inicia a limpeza da ferida, fazendo a remoção do tecido necrosado. Por fim, novas células agem na reconstrução tecidual.

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Jussara Sheffer recomenda que depois da limpeza seja aplicada a placa de alginato de cálcio, a fim de conter a inflamação e possíveis infecções. Hidrogel e produtos à base de mel auxiliam na remoção de tecidos mortos e hidratação da pele.

E comenta sobre novidades em relação aos tratamentos: “Para o processo final de cicatrização de feridas, temos acompanhado os resultados da pele de tilápia [beneficiada em laboratório], que restaura o colágeno e tem ótima aderência”.

Segundo ela, o que há de mais atual são os novos produtos antimicrobianos, como a compressa polihexametileno-biguanida (PHMB).

“Por ter ação residual de até 96 horas, ela amplia o tempo de troca de curativos, que seria diário, para até três dias.”

De acordo com a médica veterinária, soluções assim beneficiam não apenas a recuperação do animal como também o tutor, que não precisa retornar à clínica diariamente. Essa facilidade, inclusive, reduz as chances de abandono do tratamento.

Utilizado na limpeza das feridas, o soro Ringer Lactato também apresenta bons resultados, segundo Scheffer.

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Cicatrização de feridas entre cães e gatos

A combinação de soluções para o tratamento, assim como o tempo de resposta de cães e gatos, depende de cada caso. A principal diferença no processo de cicatrização de feridas diz respeito à facilidade de regeneração que o cão apresenta.

O gato, por outro lado, tem a pele mais resistente. Por isso, as lesões são menos frequentes – ainda que levem mais tempo para cicatrizar. Além disso, “o gato se estressa mais com roupa cirúrgica e bandagem, e isso influencia na sua imunidade e na resposta do organismo à lesão”, explica Sheffer.

O tratamento, então, é direcionado para a melhora na qualidade de vida do animal. Reduzindo possíveis focos de estresse no dia a dia, as alterações cutâneas por ansiedade e as lesões tendem a desaparecer. E, mesmo quando aparecerem, serão recuperadas mais facilmente. Caso contrário, as complicações podem se agravar a ponto de comprometer os movimentos.

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