Aos diversos cronistas…
Um amigo meu, pessoa que me ajudou a enxergar de forma diferente o conteúdo do livro que estou escrevendo, me disse que minhas crônicas mudam de assunto repentinamente e não aprofundo algumas coisas sérias que abordo. Dentre outras contribuições, das quais, todas elas, sem exceção, apreciei com muito carinho, a que mais chamou atenção foi essa que aponta quanto a forma que levanto os aspectos da sociedade que falo em meus escritos.
De modo algum discordei, mas, pensando durante vários dias e pesquisando outras pessoas que também considero cronistas [quem se entrega a esse “ofício” de descrever a realidade de modo mais livre e às vezes até “descompromissado”, através da escrita ou de outros tipos de arte que envolve uma maneira mais poética de se dizer aquilo que se vê, é cronista, essa é minha forma de ver], pessoas pelas quais aprendi a ter muito respeito, cheguei a conclusão de que muitas manifestações artísticas têm seu tema central e depois disso o discorrer em cima do tema ou de vários temas. Sim, eu sei que na origem etimológica e prática as crônicas tinham outro objetivo e sentido. Usando a definição de Konder, uma das que considero que mais faz sentido, a palavra crônica deriva do Latim chronica, que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos. Com o passar do tempo isso mudou. Mas, mesmo que não tivesse mudado, sem desvalorizar a origem das coisas, que sentido teria algo que não pudéssemos atribuir outros sentidos?
Um artista que não atribui “seu próprio sentido às coisas” não é artista. Naturalmente pode se entregar e entregar aos outros, a quem lhe acessa ou é acessado por sua arte, essa riqueza originada daquilo que vem de dentro, transformando pensamento e sentimento em livro, quadro ou música. Na música brasileira, por exemplo, temos vários cronistas, gente que fala o que vê sem se preocupar com os ditos métodos. Nem falei logo de cara da literatura, porque está mais que explícito que as crônicas, poesias ou romances, são praticamente a porta de entrada para quem se apaixona pelo ato de ler e depois o de escrever, se expressar pela veia poética.
Os métodos, principalmente os universitários, gera certo distanciamento, às vezes da realidade e em outras oportunidades distanciamento até daqueles que constroem o que é palpável. O que gerou um escritor como o Ferréz, por exemplo, foi o que ele viveu e não o que ele estudou. Sem qualquer tipo de arte não teríamos a oportunidade de ver qualquer contraponto da sociedade. Ou seja, teríamos apenas uma versão de qualquer acontecimento, explicações elitistas e hegemônicas.
Para não perder o costume em mudar de assunto de uma hora para outra, quero que veja que até hoje somos quase que obrigados a ver as atrocidades que ainda chega em casa apenas em forma de notícia e quase nunca como solução. Um jovem negro, morador do Brasil há mais de sete anos, nascido em Guiné Bissau, foi espancado até a morte em uma pizzaria em Cuiabá. Deram várias explicações. Não me engano… Jovem negro muitas vezes é associado com a criminalidade. Publiquei alguns detalhes do caso em meu site.
Voltando ao assunto do que é ser ou não um cronista, compartilho uma música de um cara que, pelo menos pra mim, é um especialista em descrever a realidade. Mano Brown, um cronista da música brasileira, cantando a música Jesus Chorou. Em um som apenas, vários assuntos são abordados. Se o que ele fala te chocar, pense bem em o que você define como arte.
Ouça a música Racionais Mc’s – Jesus Chorou
PS – Dedico esse escrito ao Coletivo Espiritualidade Libertária. No dia 24/09/2011 debatemos, no Centro Cultural São Paulo, sobre Educação, relações étnico-raciais e as leis federais 10.639/03 e 11.645/08 que obrigam o ensino de História da África, Cultura Afrobrasileira e Indígena nos estabelecimentos de ensino públicos e particulares.
Por: Jean Mello
Ilustração: Rodrigo Kenan
Revisão: Bruna Sousa
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